terça-feira, 18 de março de 2014

Atualizações após quase 1 ano de Casa de Repouso

Depois de alguns meses sem postar, senti uma forte vontade de voltar aqui, nesse blog que criei em meio a tanta dor, para registrar os últimos acontecimentos com a minha avó.

Dia 31 desse mês ela completará 1 ano na Casa de Repouso.
É até difícil relembrar os acontecimentos e os sentimentos de 1 ano atrás... as dúvidas, a tristeza que parecia só aumentar, a descrença no futuro, a sensação de abandono, de fim... a dor...

Mas hoje, 1 ano depois de eu e meus pais termos tomado juntos a decisão de colocar minha avó na Casa de Repouso, só tenho a dizer que foi a melhor decisão que já tomamos em toda nossa vida! Infelizmente foi necessária, gostaríamos MUITO que as coisas tivessem sido diferentes, mas hoje enxergo com clareza que não nos restava outras opções, especialmente para minha mãe, que era a maior responsável pela minha avó e quem estava presente quase 24h por dia ao seu lado e, consequentemente, quem mais sofreu com isso tudo.

Atualmente minha avó encontra-se numa situação razoavelmente "estável" com relação ao Alzheimer. Digo "razoavelmente estável" porque existem momentos em que ela entra novamente em crises de agitação e de raiva, mas, felizmente, isso acontece muito pouco e na menor parte do tempo! Na maioria dos dias ela se mantém calma, até mesmo alegre, sorrindo, se divertindo com as atividades proporcionadas pelas profissionais da fisioterapia, fono e terapia ocupacional da Casa de Repouso e distraindo-se com as pessoas ao seu redor. Minha mãe, que em casa era o alvo de rancor e ataques, agora voltou a ser uma pessoa querida aos olhos de minha avó! Nem sempre ela se recorda que minha mãe é sua filha, mas sempre sabe que a ama! O mesmo acontece comigo sempre que viajo para visita-la: ela lembra que me conhece e sua memória perdida sabe que sou uma pessoa a qual ela sente carinho, porém, nem sempre ela sabe que sou sua neta, e não a forço a se lembrar disso, deixo sempre que ela pense que sou quem ela quer, tento fazer nossos momentos juntas serem leves, com conversas tranquilas, abraços, elogios e coisas do tipo. Ela sempre fica muito feliz quando me vê, então, tento viajar para visita-la sempre que posso!

Nos momentos de crise ela volta a ficar agitada e a pedir para "ir embora", sempre dizendo que precisa ir para a casa de seus pais! Não demonstra se recordar em nenhum momento da casa onde viveu com meu avô por 60 anos e, da mesma forma, não demonstra se recordar da existência do meu avô! Há algumas semanas ela estava repetindo incansavelmente que queria suas "crianças", e chegava a ficar desesperada, alegando que suas crianças estavam sozinhas em casa! Decidimos então levar uma boneca vestida de bebê na Casa de Repouso e deixa-la junto com a minha avó, em sua cama, e a enfermeira contou que funcionou, pois minha avó acabou se distraindo com a boneca num dos momentos de suas crises!

No mais sua saúde encontra-se estável: ela se alimenta bem, consegue comer sozinha na maioria das vezes, é capaz de andar pequenas distâncias com a ajuda das enfermeiras e é uma das poucas idosas da Casa de Repouso que conversa e interage com os funcionários e enfermeiros!

Não sabemos como será o futuro nem quanto tempo sua doença demorará para evoluir ainda mais, mas sabemos que fizemos a melhor escolha dentro das condições que estávamos e em nenhum momento nos arrependemos. Apesar do gasto com a mensalidade da Casa de Repouso, a qualidade de vida dos meus pais aumentou muito nos últimos meses, a saúde deles se restaurou e a paz voltou a reinar na minha família.

A todos que encontram-se nesse momento passando por dificuldades com seus parentes com Alzheimer, eu digo sem nenhuma sombra de dúvidas: se você possui condições de pagar por uma Casa de Repouso, então procure um local de confiança, pesquise com calma e, se você sente que suas forças estão se esgotando, não relute! A internação do paciente com Alzheimer é muito mais dolorosa para a família do que para o paciente, que já não se lembra de nada e nem sabe ao certo o que acontece ao seu redor! Não pense que internar um ente querido é falta de amor ou algo do estilo, mas sim que é uma decisão importante para preservar a saúde de todos - inclusive a dele! Antes eu não entendia como isso seria possível, mas hoje vejo como o humor da minha avó melhorou após sua mudança para a Casa de Repouso.

Um grande abraço para todos e muita força para quem está passando pela tormenta que é essa doença de Alzheimer!

Att,
Maíra